terça-feira, 22 de março de 2016

Mensagem de Roberto Merino M. para o CALE-se 2016

Dias de Vinho e Rosas

Days of Wine and Roses, é o nome dum filme que Blake Edwards realizou em 1962. A crítica o assinalou na época como; “ um grande filme, um filme, difícil de se ver. É duro, amargo, denso, pesado. É uma angustiante viagem ao fundo dum poço …e o espectador é obrigado a entrar nele, pela maestria da direção, pelo estilo realista, cru, e pelas interpretações extraordinárias de Jack Lemmon (um dos meus actores favoritos) e Lee Remick.”
Como na vida real, não se chega ao fundo do poço … de maneira rápida, abrupta. Bem ao contrário. As primeiras doses dão uma sensação de leveza e de euforia….
Os créditos iniciais do filme mostravam rosas ao fundo, enquanto vamos vendo os nomes dos atores, da equipa, ao som duma canção criada especialmente para o filme por Henry Mancini…e os versos de Johnny Mercer, nos lembram que ; “The days of wine and roses laugh and run away like a child at play / Through a meadow land toward a closing door”.(“Os dias de vinho e rosas…/Rir e fugir como uma criança a brincar /Através de uma paisagem/Dum prado/prado em direção /a uma porta a fechar "
Dias de vinho e rosas. Parece o paraíso. É o nosso amargo/doce, aquilo que nos lembra a composição binaria da vida… antes de empezar a escrever esta pequena mensagem o nome que me veio a cabeça foi este Um dia de vinho e Rosas… chegamos ao final de uma etapa, de um pequeno ciclo construído com amizade, talento,criatividade, luz imaginação e… aquilo que é superior; o Teatro… sim foi o teatro que nos convocou nestas sessões, foi o teatro que fez possível este fenómeno.foi a força do teatro que abriu o pano e acendeu as luzes, ligou os motores da emoção… despertou o sorriso leve, o riso adulto ou a louca gargalhada… meus amigos estamos aqui porque gostamos de teatro, porque amamos o teatro, porque todos nós pedimos ao teatro apenas aquilo que o teatro é ou aquilo que nós desejamos que o teatro seja… apenas isso TEATRO…
A vida pode ser resumida num quotidiano de Vinho e Rosas, numa valsa de vinho e rosas… coisas boas , coisas más… doce , agridoce… amargo…
Queria recordar aqui as palavras do dramaturgo Luíz Francisco Rebello aquando a primeira edição do FITEI no ano de 1978 na cidade do Porto “ nascido em Novembro de 1978, transformou a cidade motivando a gente da cidade e das suas periferias para sair à rua e participar indiferente à falta de conforto ou ao inóspito das salas e espaços que nessa altura albergavam as iniciativas teatrais na cidade, na mensagem dirigido na primeira edição do Festival, oficialmente aberto a 10 de Novembro de 1978, Luís Francisco Rebello (autor e historiador do Teatro português) antecipava o significado histórico desta iniciativa, apresentando-a como “uma das mais importantes manifestações culturais de ressonância internacional, do Portugal democrático saído do 25 de Abril” (apud Porto 1997: 215). “Do modelo da antiguidade, que conjugava de forma irrepetível a equação entre a experiencia teatral e a presença cívica, o festival de teatro dos nossos tempos, definitivamente inaugurado em Avignon por Jean Vilar em 1947, recupera a territorialidade e a ambição aglutinadora, condições indispensáveis para a experiencia de festa que encontra em “festival” a sua forma adjetiva “(cf. Oliveira 2003: 99) Memória, reconhecimento e desafio Paulo Eduardo Carvalho /Mensagem à 28.ª edição do FITEI - 31 de Maio de 2005, TNSJ 
É a isto que o Grupo organizador nos convocou durante todas estas noites, a uma festa, a uma pequena espécie de orgia e/ou alegria de ver como os nossos problemas as nossas ambições as nossas esperanças são representadas por outros, pelos actores. Mas nunca abandonando o sentido de representação e o sentido de comunicação.
Agradeço aos organizadores por estas dez noites de magia, fantasia e ilusão… Margarida Carpinteiro lembrava-nos na sua breve mensagem na semana passada que a palavra amador encontra na raiz do amor a sua génese e claro que esta lembrança soa ou ressoa como um sino na nossa memória esquecida; tudo num ser humano deve ser feito ou comandado pelo amor, o amor aos outros e a nossa arte, ao serviço do público da história da humanidade e ao desenvolvimento humano em harmonia paz e fraternidade.

Na noite de encerramento do Festival Cale-se o Grupo organizador e os elementos do Júri querem lembrar esta figura exemplar do moderno teatro português, exemplar pelo seu dinamismo, criatividade, humor e generosidade. Particularmente lembro o ator nos meus primeiros anos de espectador em Portugal, as suas diferentes “rabulas” cada uma, uma personagem diferente, como heterónimos pessoanianos atitude criadora, que de um modo exemplar soube transmitir a um dos seus mais fieis e dedicados colaboradores o Herman José que dele apreenderia o mimetismo e a transformação de criar em cada figura um novo ser, um novo carácter. Pelo muito que o Nicolau Breyner nos deixou, só podemos estar-lhe agradecidos, nas gargalhadas, nas lagrimas, nos sentimentos camuflados de melodramatismo e na não verdade da ilusão teatral que muitos afirmam ser sempre uma mentira: Como disse Herberto Helder (e para terminar) Ninguém ama tão publicamente como o actor./Como o secreto actor.
Em estado de graça./Em compacto estado de pureza./O actor ama em acção de estrela./Acção de mímica./O actor é um tenebroso recolhimento /de onde brota a pantomina./O actor vê aparecer a manhã sobre a cama./Vê a cobra entre as pernas./O actor vê fulminantemente como é puro./Ninguém ama o teatro essencial como o actor./Como a essência do amor do actor./O teatro geral./O actor em estado geral de graça./ (poema acto de Herberto Hélder)

 Roberto Merino M

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